Franja, piercings e tênis coloridos são alguns elementos da estética emo
Olhos pintados com lápis preto, cobertos com franjas, adereços como cintos de grandes fivelas e tênis coloridos, além de piercings no
rosto e roupas de cor predominantemente escura (embora existam os que
prefiram outras cores) são alguns dos elementos utilizados pelos emos,
que tentam expressar um estilo próprio que se tornou comum nos centros
urbanos na última década. Obviamente, tal grupo não nasceu apenas como
um estilo ou certo modismo. Originalmente, surgiram na década de 1980,
nos Estados Unidos, tendo em suas raízes um gosto pelo rock e pelo punk,
mas mais precisamente pelo chamado emocore, um gênero de música que
mistura hardcore (de tom mais agressivo) com letras românticas.
Até se chegar ao tipo de música que realmente caracteriza o gosto dos
emos atualmente, várias transformações ocorreram, distanciando-os cada
vez mais do rock e do punk de trinta anos atrás. Dentre as primeiras
bandas que produziriam um som emocore estariam Rites of Spring e
Embrace, passando na década de 1990 por bandas como Jimmy Eat World e
Dashboard Confessional, até chegar mais recentemente à Fall Out Boy,
Panic! at the Disco e My Chemical Romance. No Brasil, bandas como
NXZero, Fresno e Restart seriam alguns exemplos desse gênero, o qual
aqui teria chegado após o ano 2000. Contudo, é válido observar que
muitas dessas bandas, ao que parece, não necessariamente se
autorreferenciariam como fazendo parte do gênero emo, uma vez que
haveria algo de pejorativo em tal classificação ou rótulo, desvirtuando o
que tais bandas acreditariam ser realmente seu estilo musical.
Grosso modo, os emos são um tipo de grupo social informal (estes são
constituídos por indivíduos que de algum modo comungam de uma visão de
mundo, de um gosto por uma alternativa de comportamento). Consideram-se
pessoas altamente emotivas e sensíveis às letras das músicas de sua
preferência, as quais têm como temática a melancolia, a tristeza,
problemas que envolvem a temática do amor, da rejeição do outro (como da
própria família). Porém, é válido dizer que muitos entre os que aderem a
esse grupo assim não o fazem apenas pelo gosto musical em comum, mas em
grande medida pela identidade ou empatia a esse modo de vida, de
comportamento, enfim, pela própria moda no tocante à vestimenta.
Quase que absolutamente, trata-se de grupos compostos por adolescentes
e, dessa forma, pode-se compreender que a adesão e a procura de um
“estilo” estão ligadas certamente ao momento da vida em que se busca
construir uma identidade, lutando-se pela autoafirmação. Nesse sentido,
talvez esse aspecto da transição na formação da personalidade (entre a
infância e a idade adulta) possa explicar a mistura de símbolos do
estilo punk com outros de certo aspecto infantil, como se vê na mescla
entre roupas escuras e estampas de personagens infantis, além dos
colares de contas coloridas, dos bottons, dos chaveiros e mochilas, dos bichos de pelúcia, etc.
Outro aspecto curioso no comportamento dos emos está na questão da
sexualidade, a qual dentro desses grupos pode se manifestar de várias
formas para além da heterossexualidade. Aliás, parte do preconceito que
sofrem se dá por conta do já existente preconceito contra homossexuais e
bissexuais, uma vez que esses tipos de sexualidade são bastante comuns
entre os emos. A própria emotividade e a sensibilidade tão
características desse grupo vão na contramão de uma expectativa social,
por exemplo, com relação a um comportamento masculino de um adolescente
homem, o qual, pelo senso comum, deveria ser mais agressivo e não
emotivo. Dessa forma, têm-se condições para se criar estereótipos, os
quais certamente apenas servem para corroborar preconceitos de toda
natureza.
Buscando-se aqui traduzir uma leitura imparcial, não se trata de
criticar ou fazer apologia a essa tribo urbana, mas sim de compreender
que os emos, enquanto grupo, veem em seu comportamento – assim como em
outras épocas outros jovens também o faziam – uma forma de “transgredir”
uma norma ou expectativa construída pela sociedade. Por isso, ao se
falar de novas tribos urbanas ou de grupos em geral que constituem
minorias, é preciso considerar que a intolerância da sociedade com os
“diferentes” fica expressa nos atos de violência, sejam em termos
físicos ou psicológicos. Assim, um curioso fenômeno social pode ser
percebido no fato de que essa mesma sociedade urbana/industrial, ao
passo que cria os mais diferentes grupos sociais – como os emos –, não
se mostra suficientemente capaz de lidar com eles.